sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

ACORDO MÓRBIDO SEGUIDO DE APELO...

Acordo mórbido, seguido de apelo...

(by jan).



Fizemos um acordo eu e a morte, nem ela me persegue, nem eu fujo dela. Combinamos assim: Um dia, queira Deus esteja bem distante, a gente se encontre e se, de forma alguma não for possível ser diferente, for inevitável, então que seja para sempre, mas sem dor e nenhum sofrimento, que dê tempo para que meus familiares e amigos, aqueles que verdadeiramente me amam e me respeitam, localizem a gravação de minhas duas músicas prediletas: “Adios” na magistral interpretação da orquestra de Gleen Miller e “Apenas um coração solitário” na interpretação mágica de Freddy Gardner que, até hoje, após tantos anos de sua morte, continua sendo o maior, o único e inesquecível, saxofonista do mundo, um virtuose. Ao encontrá-las, toquem-nas durante o meu velório de cremação, tantas e quantas vezes forem necessárias, até o término do funeral. À minha viúva, peço que reúna meus amigos, numa creimônia, no meu sítio Berebecá (nome que escolhi para homenagear meu grande amigo, meu padrasto, cognome que usou quando foi goleiro do clube de futebol Marcílio Dias, em Santa Catarina, na década de 30) e na base do pedestal da minha âncora, ao por do sol, espalhe as minhas cinzas. Tudo isso, feito com muita alegria e muita risada, porque tenham certeza, todos, a minha vida, depois de algumas decepções, passou a ser uma brincadeira constante e, portanto, minha morte deverá ser motivo de satisfação e alegria, para os que estiverem presentes, ao prestar-me a última homenagem. Quero chegar ao Paraíso, porque acredito na existência de Deus, sou um noviço espiritualista, sorrindo e lá encontrar, aqueles que foram meus verdadeiros amigos: meu grande, único e verdadeiro amor; minhas ex-mulheres, sensíveis e delicadas criaturas, que apesar do pouco tempo que conviveram comigo, adoçaram minha vida para sempre; minha mãe; meu pai; meu padastro; todos os meus parentes; meus filhos; minhas adoradas filhas e meu cãozinho júnior, meu grande e verdadeiro amigo, doce companheiro de todas as horas, minha sombra querida, que me concedeu a honra do seu amor, puro, inocente, gostoso, confiável porque não conheceu dólar (rsrsrs!). Levo-os, todos, gravados na janela da minh'alma, em minha retina, para poder reencontrá-los na eternidade, os que já se foram e aqueles que um dia irão.

Se algum dia alguém conseguir encontrar uma filha, que tive com uma gaúcha chamada Sônia, ela foi gerada na noite, do dia, em que o Presidente Kennedy foi assassinado, ou se ela um dia me procurar, afinal para Deus nada é impossível (ela ainda deve morar na Dinamarca) digam-lhe que levo comigo a vergonha e o remorso de não ter podido tê-la ao meu lado e de quanta vontade senti, durante todos esses anos, de estreitá-la em meus braços, enquanto pude, porque mesmo distante eu a amei, acreditem! Ela, quando criancinha era a sósia da Saninha. Peço perdão à Sônia pelas palavras duras que lhe disse, quando soube que nascera nossa filha. Hoje, apesar de na época ser muito jovem, reconheço que fui um covarde! Não tinha o direito de dizer-lhe o que disse. Perdão!

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