quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

DEPRESSIVO IMPLORO

Depressivo, imploro!
(by jan)

Desde ontem,
Eu odeio as flores,
Odeio a natureza,
Odeio toda a sua beleza,
Odeio o barulho do mar,
O marulho de suas ondas,
O canto dos pássaros,
O vôo das borboletas.
Odeio o ruído das cigarras,
O latido dos cães,
O sorriso das crianças.
Odeio o calor do sol,
A luz do dia,
A escuridão da noite,
O brilho das estrelas,
O clarão do luar.
Odeio o vento,
Odeio toda gente,
Odeio tudo e odeio nada.
Estou me odiando agora e,
Até minha amada, odeio!
Desde ontem,
Eu odeio todas as cores,
Que jamais expressarão meus sentimentos,
Minhas dores
E, em vez de me fazerem feliz,
Aumentam esse vazio,
Muito mais,
Enquanto aumenta,
Em minha cabeça,
Essa pressão,
Uma dor intensa,
Dentro do meu coração.
Esqueçam-me, por favor, gente!
Deixem-me ficar aqui,
Ainda que triste, mas consciente.
Deixem-me exorcizar esta depressão.
Deixem-me isolado, nesta maldita solidão.
Desde ontem,
Não faço planos,
Não tenho sonhos,
Me sinto muito,
Muito infeliz jogado aqui neste catre.
Não tenho em mente nenhum lugar melhor,
Onde eu queira e possa ficar
Estou sem vontade de nada,
Não estou com nada,
Não quero mais nada.
Não tenho nem álibi
Se, daqui a pouco,
Alguém me acusar
De matar a natureza,
Com essa minha morbidez,
E quiser me incriminar.
Desde ontem,
Estou implorando:
Deixem-me, por favor!
Estou depressivo, decadente, doente,
Sentindo grande tristeza,
Com tanta gente, em volta de mim,
Tão barulhenta, tão presente e eu, assim, ausente.
Desde ontem,
Quero ficar sozinho,
Com meus pensamentos,
Ver ninguém,
Saber de nada,
Quero ficar assim...
É delicado, é mórbido o que sinto, eu sei!
É insuportável esse desafio
De ter que encarar, ver, quem quer que seja,
Agora, tal como é, enfim...
Contudo, é muito mais delicado e doentio,
É quase insuportável,
Esse seu jeito, imponente, despojado,
Natural, arrogante, insolente,
De levar seus dias, tão inutilmente,
Enquanto eu sofro, indolente, deprimente,
Sentindo-me, assim, infelizmente,
Assistindo, anestesiado,
Toda essa tua beleza,
Sem poder fazer nada,
Para escapar desta tristeza...
Estou depressivo,
Hoje, ainda, é verdade,
Mas isto passa.
Amanhã,
Volto a te amar, novamente, natureza
E, com toda certeza,
Volto a amar, quem sabe,
Até, a mulher amada, minha namorada!”

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